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Arquitetos: Estúdio AMATAM
- Área: 284 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Garces
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Fabricantes: Cosentino, Alunik, CIN, Dekton, Geberit, Grohe, Italbox, Lunawood, Muuto, Pluscover, Sanindusa, Secil, Sika

Descrição enviada pela equipe de projeto. Junto à Aroeira, onde a brisa atlântica tempera o pinhal e a baixa densidade preserva o silêncio, esta moradia nasce do desejo dos clientes por um ambiente recatado, simples e depurado — uma casa discreta que não se impõe ao modo de habitar, mas o estimula. Um refúgio do reboliço da vida citadina de onde provinham, capaz de acolher um ritmo de vida diferente, mais calmo.

Partindo de uma ideia partilhada por este casal, a resposta toma corpo na reinterpretação contemporânea da casa-pátio de matriz mediterrânica e islâmica: um conjunto de espaços introvertidos que se abrem por dentro, articulados por pátios que regulam luz, ar e temperatura, e que desenham uma relação intrínseca entre interior e exterior, sem fronteiras rígidas, apenas limiares sugeridos.

A premissa inicial foi simples e poderosa: criar um refúgio protegido, onde a vida acontece entre paredes brancas e superfícies depuradas, ritmadas pelos pátios e as aberturas estratégicas para o exterior. Tal como o Riad na Medina, a relação com a rua é discreta, quase silenciosa, e é no interior que a casa se revela em toda a sua riqueza espacial.


Os pátios interiores tornam-se o cerne do habitar: captam luz, promovem ventilação cruzada e criam zonas de frescura natural no Verão, enquanto no Inverno retêm calor e protegem dos ventos, respeitando a tradição da arquitectura bioclimática ancestral. A luz solar, ao incidir nas superfícies brancas estanques, desenha um jogo mutável de sombras e reflexos que confere expressão à simplicidade material, transformando o passar das horas numa coreografia silenciosa.

A linguagem é contida, a volumetria trabalha por subtração, e o silêncio compositivo torna-se argumento. Não há excesso, há precisão. A frente do lote guarda distância e reserva; o interior revela a intensidade da vida em torno dos vazios, num jogo de cheios e sombras que se transforma ao longo do dia. A narrativa aproxima-se de uma arquitetura que se pretende com uma presença discreta, táctil e luminosa que nos convoca sem excessos. Ecoa-se a sensibilidade que valoriza o elogio da sombra, a tactilidade dos materiais e a capacidade da luz de erigir emoções, onde a obra fala baixo — e por isso reconforta.


A materialidade exterior segue o mesmo princípio de honestidade e permanência, assente em duas texturas principais: um revestimento em pedra sinterizada ultracompacta, que reveste e protege o piso térreo, e painéis de madeira termo-modificada de origem certificada, contribuindo para uma abordagem construtiva sustentável e uma pegada ambiental contida. A conjugação destes dois materiais estabelece um diálogo entre a tecnologia e a tradição, entre a precisão industrial e a textura orgânica. Os elementos ripados brancos verticais, actuam como filtro solar e visual, afinando a relação entre luminosidade e privacidade e reforçando o desempenho bioclimático do conjunto.

No interior, a paleta cromática condensa e prolonga a serenidade do exterior. No piso térreo, o microcimento de tom quente e confortável desenha um pavimento contínuo, silencioso e táctil, que acolhe a luz e unifica os espaços sociais. No piso superior, o soalho em carvalho natural introduz uma temperatura material suave e doméstica, convidando ao recolhimento. Nas zonas húmidas, a pedra sinterizada mantém a coerência da linguagem: superfícies sóbrias, de elevada resistência e baixa manutenção, que afirmam durabilidade sem ostentação. Pequenos apontamentos em preto nas ferragens e luminárias pontuam a neutralidade, conferindo elegância e sofisticação aos ambientes interiores.

Esta casa é, em última instância, um instrumento afinado para a vida dos seus habitantes. A flexibilidade programática — a graduação entre íntimo e coletivo, a transparência controlada, a possibilidade de usar os pátios ao longo das estações — faz deste lugar um suporte para rituais variados, sem condicionar, antes potenciando modos de habitar. A sala estende-se sobre o grande pátio exterior que se hierarquiza em torno de uma romãzeira, que faz jus à identidade mediterrânica desta casa. A cozinha que estabelece uma relação fluida, mas controlada, com os espaços sociais, desdobra-se numa esplanada exterior, e o duplo pé-direito vincula os dois pisos numa percepção unificada.

Cada pátio desta casa tem um propósito. O primeiro pátio, junto à entrada, é um espaço cenográfico, com um jardim murado em pedra e madeira, e banhado por luz zenital. É uma antecâmara emocional, um lugar de transição entre o mundo exterior e o universo íntimo da casa. O grande pátio central, com a sua árvore solitária que se tornará protagonista ao longo das estações, é o verdadeiro coração da casa. Ele articula os espaços sociais interiores e exteriores, oferece sombra no Verão e abrigo no Inverno, e transforma-se num cenário vivo que acompanha o quotidiano dos habitantes. O pátio interno, após a entrada, que traz luz e ventilação natural aos espaços de circulação em ambos os pisos. E por último, pequenos pátios de transição junto a áreas secundárias, pensados como respiros visuais e de ventilação.

O resultado desta estratégia volumétrica, permite que ao longo do dia, a luz modele volumes e intensifique a relação entre o corpo construído e a envolvente natural. Esta casa é uma arquitectura de silêncio e contenção, que se deixa descobrir sem clamor. É um espaço que trabalha com o tempo, que celebra a luz e os materiais com honesta modéstia e consciência bio-climática, e que oferece um palco livre para a vida íntima e para a convivialidade. Na Verdizela, entre sombras e fulgores, construiu-se um lar que não dita regras de uso, mas inspira uma forma de habitar serena, fluida e em sintonia com o lugar.




























